sábado, 3 de setembro de 2011

D.N.A.

        Ao nascer recebi dos meus pais, além de todo amor, carinho,dedicação, um lar, e tantas outras graças de ter sido criada por pessoas distintas; um codigo genético, afirmando minha maternidade e paternidade.
        Fui guiada por meus pais ao longo da vida... Eles me ensinaram quase tudo que sei hoje. Ainda com a visão escurecida, frágil, cabendo ainda em seu colo, minha mãe aleitava-me em seus seios, mantinha-me em seus braços aquecida, protegida do frio, calor, do medo. Fui crescendo e aprendendo com os conselhos recebidos dos meus progenitores. Aprendi dar meus primeiros passos, seguidamente caminhar. Sem saber que caminho escolher, e como ir, fui conduzida por suas mãos. Seguia pelos caminhos que eles me mostravam, fazia o que eles me diziam, as vezes "ordenando"... Comia o que me era oferecido.
        De tantos ensinamentos que recebi, talvez o que mais me emociona e encanta é o de ser honesta acima de tudo e assim encontrar meu lugar no mundo através de meus próprios méritos. -"Filha, nunca deixe de estudar". Assim dizia minha mãe, enquanto meu pai labutava dia e noite revezando com  o sono, em prol do sustento da família.
       Lembro-me dos dias que passei ao lado do meu avô materno, a quem admiro e respeito imensamente, a entender a engenhosidade de um relógio com  seus ponteiros e números, formando as horas, minutos e segundos. Ao aprender essa importante lição, o primeiro veio de suas mãos, um pouco antes da vida ele se despedir. No mesmo ano em que veio do meu pai  a primeira bicicleta, e "maezinha" primeira boneca vinda da  minha mãe. Em comemoração ao natal!
      Todas as lições recebidas, guardo-as até hoje...
      Na antiga  rua Ana Carolina Caldas, endereço 40 comecei meu gosto pelas letras; frases; e livros. A boa música veio do meu tio, sendo trazida pelo vento as canções que tocava em seu bar na rua detras da        minha casa, no decorrer do dia... Aprendi a admirar o clássico, o popular, o despojado. Minha família ensinou-me a nunca desistir! Em tempos difíceis saber esperar, e na espera não murmurar, ao alcançar não me enaltecer.
      Fui crescendo alí e aprendendo a trabalhar para me sustentar assim como meu pai fez a vida toda... Com o muito que recebi em ensinamentos e cultura, não tinha mesmo como eu me desviar, sempre seguindo em fente aprimorei meus conhecimentos, eles deram o "start" e eu decidi ampliar e multiplicar o que aprendi. Dizia meu avô: " - Minha neta, o saber não ocupa espaço." Nossa, como segui esse sábio conselho e o faço até hoje, e para sempre!
     Graças a toda base sólida que recebi, não preciso mais a todo instante ser guiada por alguém. Com o que aprendi hoje eu sei seguir sozinha, aprendi a tomar minhas decisões e fazer minhas escolhas. Não preciso perguntar mais a niguém para onde devo ir, ou ir para onde meus pais querem que eu vá, como fazia enquanto menina, nem o que eles querem que eu me torne mediante ao que sonharam para minha vida. Médica, Assistente Social, Advogada... Em 2005 formei-me em Educadora Física, seguidamente Psicologa... Aprendi a ter meus próprios gostos, dintinguir os sabores ter os meus desejos, saber a hora de dormir, sonhar meus próprios sonhos, quem eu quero para estar ao meu lado durante a caminhada do matrimônio, jornada árdua, e para mim de único "ato".
      Entendo que divergir de uma opinião ou do que foi escolhido previamente por eles pra minha vida bem como os sonhos, pode não ser o que agora eu queira ou seja também o meu sonho, e isso não é o primeiro sintoma de desobediência, e sim, de que como eles desejaram e eu agradeço aconteceu: eu aprendi a caminhar sozinha e fazer escolhas, ser seletiva, ir em busca dos "meus sonhos"...
     Não sou mais a menina que cabia em seus braços, e precisava de ajuda para ir a escola, troquei os gibis pelos livros, as tarefinhas por provas de universidade, a brincadeira pelo trabalho. Dou a isso o nome de privacidade, e não de teimosia como meus pais. É difícil lidar com os conflitos de gerações. Porém se ambos se respeitarem é possível viver em paz!
     Ao final das contas, eu só queria dizer que sou grata por tudo que recebi, vivi, e aprendi. Essa é a minha base, mas, quero ter o direito de viver minha vida e compor minha própria historia! quando ainda estava sob sua custódia, ainda sem carteira de identidade, era justo ser direcionada, mas, agora posso seguir sozinha, e pretendo. Então, soltem os "arreios" da minha  madibula, não estou mais conseguindo sorrir com elas        pressionando meu maxilar, tirem o "açoite" da minha carne, não consigo caminhar assim, e eu preciso caminhar porque só caminhando eu posso conhecer os meus caminhos, até mesmo para voltar se algo der errado, se for sempre conduzida nos braços de alguém eu nunca saberei o caminho que andei para poder voltar. Quero sentir com o meu coração, tocar com minhas mãos, desejar com minha pele, querer com o meu querer... O mesmo D.N.A. não significa a mesma vida. Toda herança do meu código genético eu não me esquerecei... Mas, lembrem-se: ELE DIZ O QUE SOU, E NÃO QUEM EU SOU! Entre o certo e o errado, EU preciso saber escolher, e de tantas as pessoas que eu posso ser, escolhi ser uma só. E essa pessoa se chama Fernanda da Silva Negreiros, nome que foi dado pelo meu pai poucas horas depois do meu nascimento. É essa pessoa que quero ser.
        Ver um filho adulto e liberto das amarras é a pior parte para um pai e uma mãe, mas, a vida deve ser assim, cada um responsável pelas escolhas de suas vidas.

 " Acontece que as mães tem que gerar duas vezes. Uma quando nascemos, e outra quando crescemos. Sendo que a segunda é a mais difícil" (CAZUZA).


Fernanda Negreiros
    02/09/2011
        23:04